segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Vida, Saber e Ignorância

É urgente admitirmos nossa estupefação diante do fenômeno da vida. Sabemos muito e temos condições de aprender cada vez mais sobre como funciona a vida, mas muito pouco sobre como ela surge. A origem e a razão de ser da vida e do Universo permanece sendo um mistério sobre o qual podemos apenas especular. Estamos diante do desafio de decidir quando a vida começa para um dado indivíduo e se nos é lícito fazer experiências com células embrionárias. A grande objeção é de cunho religioso. Os religiosos crêem que a vida é criação de um Deus e não têm dúvida em afirmar que a vida se inicia na concepção. Ora, essa certeza se baseia naquilo que não sabemos. Para o que ainda não sabemos criamos hipóteses e pressupostos. Nossa ignorância sobre a origem da vida e do Universo nos levou à criação da idéia de Deus, um ser superior que teria criado tudo o que existe. No entanto, como diria Sócrates, a verdade é que tudo o que sabemos de fato sobre isso é que não sabemos. Nossa ignorância vai mais além, nem mesmo sabemos se existe vida fora da Terra. A única coisa que sabemos com certeza é que existe vida na Terra e que, nas atuais circunstâncias, somos os grandes responsáveis pela sua manutenção, ou seja, depende de nós seres humanos – misteriosas entidades de carbono sensíveis e inteligentes – a manutenção ou o fim da vida na Terra e, até onde nos é dado saber, no Universo! Então, a grande questão que deve ser colocada não é saber quando a vida começa, mas sim decidir o que é melhor no sentido da sua preservação naquilo que depende de nós. Entre outras ameaças, a vida na Terra pode acabar por um cataclismo, por uma guerra nuclear ou por uma epidemia incontrolável. No que nos diz respeito, a vida depende de nossos saberes, a ciência é nosso grande recurso. Quanto mais soubermos sobre a vida, mais seremos capazes de preservá-la. A pesquisa com células tronco representa um avanço fundamental do nosso saber científico sobre a vida. O pensamento religioso já atrasou muitos outros desenvolvimentos em função de seus pressupostos fundados na ignorância. Não podemos nos dar o luxo de repetir erros históricos dessa magnitude. Um eventual pedido de desculpas de um Papa daqui a 200 ou 300 anos – se ainda houver vida – não será capaz de reverter esse atraso, potencialmente fatal. A vida deve ser preservada independentemente de nossas crenças, mas em função de nossos saberes. Mesmo que a vida tenha sido criada por um Deus, a inteligência humana faz parte dessa criação e, portanto, temos o dever de usar esse dom para preservar a obra da criação fazendo tudo o que está ao nosso alcance. Certamente nosso suposto Criador não irá nos condenar por isso, mas nós podemos estar condenando a vida por atraso, ignorância ou omissão.