domingo, 1 de novembro de 2015

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

ENTENDENDO A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Muitas pessoas não entendem por quê ou como algumas pessoas se tornam dependentes de substâncias químicas. Uma idéia muito comum é a de que os dependentes químicos não têm força de vontade ou possuem uma fraqueza ou defeito de caráter e que eles poderiam parar de usar drogas simplesmente optando por mudar seu comportamento. Atualmente, no entanto, há um consenso ente os profissionais de saúde, de que, na verdade, a dependência química é uma doença. Para alguém se recuperar dessa doença, que é extremamente complexa, é necessário muito mais do que “força de vontade” ou boas intenções. Isso ocorre porque as drogas causam uma alteração no funcionamento cerebral de forma a promover o uso de drogas de modo compulsivo. Até mesmo parar de fumar cigarro comum (tabaco) é difícil, mesmo para aqueles que estão prontos e desejam parar. Através de avanços científicos, sabemos mais sobre como as drogas atuam no cérebro do que nunca, e também sabemos que a dependência pode ser tratada com sucesso de modo a ajudar as pessoas a abandonar o uso das drogas e voltar a levar uma vida produtiva. A dependência química tem consequências negativas para os indivíduos e para a sociedade em geral. Os custos econômicos e prejuízos sociais da dependência química são incalculáveis. Estimativas do total dos custos totais do abuso de substâncias, apenas nos Estados Unidos, incluindo a produtividade e saúde e os custos relacionados com o crime, excedem 600 bilhões de dólares por ano. No Brasil não é diferente, mas não existem estimativas oficiais. Além do custo econômico existem outros custos não calculáveis monetariamente, como a desintegração familiar, perda do emprego, fracasso escolar, violência doméstica e abuso infantil. O que é Dependência Química? A Dependência Química é uma doença crônica, é uma doença mental, com correlatos neurológicos, freqüentemente reincidente, que causa a busca e uso compulsivo de drogas, apesar das conseqüências prejudiciais para o indivíduo e para aqueles ao redor dele ou dela. Embora a decisão inicial de experimentar uma droga seja voluntária para a maioria das pessoas, as alterações cerebrais que ocorrem ao longo do tempo desafiam o autocontrole da pessoa e a sua capacidade de resistir aos impulsos intensos que a impelem a usar a droga. Felizmente, existem tratamentos disponíveis para ajudar as pessoas a combater os poderosos efeitos perturbadores da droga sobre a vida e a saúde do dependente. A pesquisa mostra que a melhor maneira de garantir o sucesso na maioria dos pacientes é a combinação de tratamento através medicamentos e de terapia comportamental. As modalidades de tratamento precisam ser adaptados aos padrões de cada paciente de modo a garantir uma recuperação sustentada, uma vida sem drogas e qualquer ocorrência concomitante de problemas médicos, psiquiátricos e sociais. Semelhante a outras doenças crônicas e reincidentes, tais como diabetes, asma ou doença cardíaca, a drogadição pode ser tratada com êxito. E, como em outras doenças crônicas, não é incomum que os doentes apresentem recaídas, que no caso da dependência química significa começar a abusar de drogas novamente. Recaída, no entanto, não é sinal de falha do tratamento, isso apenas indica que o tratamento deve ser reajustado, ou que uma outra alternativa de tratamento pode ser necessária para ajudar o indivíduo a recuperar o controle e se recuperar. O que acontece com o cérebro do usuário de drogas? Drogas são substâncias químicas que interferem no sistema de transmissão nervosa do cérebro alterando o modo normal como as células nervosas (neurônios) realizam o processo de enviar, receber e processar informação. Há pelo menos duas maneiras como as drogas interferem: (1) imitando mensageiros químicos naturais do cérebro, os chamados neurotransmissores e (2) por excesso de estimulação do "circuito de recompensa" do cérebro. Algumas drogas (por exemplo, maconha e heroína) têm uma estrutura similar aos neurotransmissores naturais. Esta similaridade permite que as drogas "enganem" os receptores dos neurônios ativando as células nervosas para enviar mensagens de modo anormal. Outras drogas, como cocaína ou anfetamina, podem causar uma liberação anormalmente grande de neurotransmissores naturais nas células nervosas (principalmente dopamina) ou bloquear o mecanismo de re-captação normal dessas substâncias, que é necessária desligar a sinalização entre os neurônios. O resultado é um cérebro inundado de dopamina, um neurotransmissor existente nas regiões do cérebro que controlam o movimento, a emoção, a motivação e os sentimentos de prazer. A hiperestimulação do sistema de recompensa, que existe pare recompensar os comportamentos naturais ligados à sobrevivência (comer, trabalhar, praticar exercícios, atividades lúdicas, ouvir música, fazer amor, etc), produz efeitos eufóricos em resposta às drogas psicoativas. Esta reação põe em movimento e reforça um padrão que, de certa forma, "ensina" as pessoas a repetirem o comportamento gratificante, no caso, o uso de substâncias. O álcool e o tabaco, embora sejam drogas lícitas, tem o mesmo efeito nocivo sobre o cérebro e são a grande porta de entrada para o consumo de drogas em geral. É preciso que os adultos se conscientizem em relação a isso para deixar de dar exemplo negativo para as crianças e adolescentes. À medida que uma pessoa continua a fazer uso drogas psicoativas, o cérebro vai se adaptando à liberação excessiva de dopamina, produzindo menos dopamina natural ou reduzindo o número de receptores de dopamina no circuito de recompensa. O resultado é uma diminuição do efeito normal da dopamina no circuito de recompensa, o que reduz a capacidade do abusador tanto para desfrutar o efeito das drogas como para usufruir os eventos da vida que normalmente causam prazer. Esta diminuição obriga a pessoa viciada a manter o uso de drogas em uma tentativa desesperada de manter a função da dopamina nos níveis normais. Uma vez instalada a dependência são necessárias quantidades cada vez maiores da droga para alcançar o mesmo nível de libaração de dopamina: esse efeito é conhecido como tolerância. O abuso a longo prazo provoca alterações nos circuitos e sistemas de neurotransmissão do cérebro. Por exemplo, o glutamato é um neurotransmissor que influencia o circuito de recompensa e a capacidade de aprender. Quando a concentração ideal de glutamato é alterada pelo uso de drogas, o cérebro tenta compensar aumentando os seus níveis, o que pode prejudicar a função cognitiva e levar a um prejuízo da atenção, memória e capacidade de aprendizado. Estudos de imagem cerebral (como tomografia e ressonância eletromagnética) de indivíduos dependentes de drogas mostram alterações em áreas do cérebro que são fundamentais para as capacidades de julgamento, tomada de decisão, aprendizagem, memória, e controle de impulsos. Juntas, essas alterações podem levar um dependente a buscar e usar drogas compulsivamente, apesar do efeito adverso e das consequências devastadoras do vício para sua vida. Por que algumas pessoas ficam viciadas e outras não? Nenhum fator isolado pode prever se uma pessoa vai se tornar viciada em drogas. O risco de dependência é influenciado por uma combinação de fatores que incluem aspectos biológicos individuais, o ambiente social, a idade ou o estágio de desenvolvimento. Quanto mais fatores de risco um indivíduo tem, maior será a chance de que o uso de drogas possa levar ao vício. Por exemplo: Aspectos Biológicos - A carga genética (hereditária) com a qual as pessoas nascem - em combinação com as influências ambientais - são responsáveis por cerca de metade da sua vulnerabilidade ao vício. Além disso, a etnia, o gênero, e a presença de outros transtornos mentais podem influenciar o risco de abuso e dependência de drogas. Fatores Ambientais - O ambiente de pessoa inclui muitas influências diferentes, desde da família e dos amigos até o nível socioeconômico e qualidade de vida em geral. Fatores como pressão dos colegas, abuso físico e sexual, estresse e qualidade de paternidade, podem ser de grande influência na ocorrência do abuso de drogas e na escalada para o vício na vida de uma pessoa. Desenvolvimento - Fatores genéticos e ambientais interagem com as fases críticas de desenvolvimento na vida de uma pessoa para afetar a vulnerabilidade ao vício. Apesar de usar drogas poder levar ao vício em qualquer idade, quanto mais cedo o uso de drogas começa, mais provável será o avanço para níveis mais graves de abuso. Isso representa um desafio especial para os adolescentes, cujos cérebros ainda estão se desenvolvendo, precisamente nas áreas que controlam a tomada de decisão, julgamento e auto-controle. Por isso a adolescência é um período da vida particularmente propenso a comportamentos de risco, incluindo a tentativa de drogas de abuso. Cerca de 90 % dos casos de abuso de drogas se iniciam antes dos dezoito anos. A chave é a Prevenção A dependência química é uma doença evitável. Os resultados de pesquisas têm demonstrado que programas de prevenção envolvendo famílias, escolas, comunidades e os meios de comunicação são eficazes na redução do abuso de drogas. Apesar de haver muitos eventos e fatores culturais que afetam as tendências ao abuso de drogas, quando os jovens percebem o abuso de drogas como prejudiciais, eles tendem a reduzir seu consumo de drogas. Assim sendo, a educação e divulgação são fundamentais para ajudar os jovens e o público em geral a compreender os riscos do abuso de drogas. Professores, pais, médicos e outros profissionais de saúde devem continuar enviando a mensagem de que a dependência química pode ser prevenida se as drogas nunca forem usadas. A grande dificuldade dos jovens é conter a curiosidade natural da adolescência em experimentar novas sensações e emoções. É preciso alertá-los constantemente que, no caso das drogas psicoativas, essa curiosidade pode ser fatal. Em relação a esse aspecto - o efeito das drogas - é melhor ser ignorante, pois esse é um conhecimento que não faz falta alguma para uma vida saudável. O conhecimento, por outro lado, pode ter conseqüências desastrosas que precisam ser evitadas a qualquer custo. Onde buscar ajuda? Existem diversas formas de o usuário ou a família dos usuários buscarem ajuda efetiva para o problema da dependência química, desde os serviços públicos especializados, os consultórios particulares de profissionais especializados e as organizações de ajuda mútua como os Alcoólicos Anônimos e os Narcóticos Anônimos. Em casos mais avançados, pode ser necessária a internação hospitalar para se iniciar um processo de desintoxicação e de conscientização visando a prevenção das recaídas. Casos crônicos podem necessitar um afastamento físico ainda maior da possibilidade do acesso às drogas através da internação mais prolongada em Comunidades Terapêuticas especializadas. O melhor caminho para começar a enfrentar o problema é procurar um serviço médico que tenha preparo técnico e experiência no assunto para obter a orientação necessária. Atualmente a rede pública de saúde conta com os CAPS-AD (Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas) onde o tratamento é realizado através de vários tipos de atividades, como: Atendimento médico e psicológico individual e grupal; atendimento e orientação aos familiares; oficinas terapêuticas; visitas domiciliares; tratamento clinico; orientações pedagógicas preventivas para a comunidade. Estas atividades são oferecidas regularmente, de acordo com a necessidade de cada pessoa e são realizadas por profissionais, como: Assistente Social, Clínico Geral, Educador Físico, Enfermeiro, Psicólogos, Psiquiatras, Terapeuta Ocupacional, além da equipe técnica composta por Auxiliares de Enfermagem, Auxiliares Administrativos, Auxiliares de Serviços Gerais, dentre outros. Infelizmente o número de centros especializados no serviço público ainda está muito aquém do que seria necessário para atender a uma incidência, infelizmente, cada vez mais crescente da dependência química.